sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Intocáveis S.A. - COMPLIANCE revista ISTO É

Nº EDIÇÃO: 746 | Economia | 20.JAN.12 - 21:00 | Atualizado em 25.07 - 11:02

Intocáveis S.A.

Empresas adotam políticas antifraude ao mesmo tempo que se mobilizam para aprovar leis que inibam a falta de ética no mercado.

Por Cristiano ZAIA
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Depois de abraçar as causas do desenvolvimento sustentável e da erradicação do trabalho escravo e infantil, representantes do setor privado começam a se apropriar de uma bandeira com forte apelo no País atualmente: o movimento anticorrupção. O número de empresas interessadas em melhorar sua imagem pública cresce na medida em que aumenta a pressão do mercado de capitais por uma boa governança corporativa. Os acionistas “premiam” as companhias que investem em condutas éticas como política empresarial. Além de adotar procedimentos internos para evitar fraudes, grandes corporações, como Siemens, EDP Energia, Walmart e Natura, vêm fazendo pressão pela aprovação de leis de transparência no Congresso. 
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Wagner Giovanini, diretor de Compliance da Siemens: "Numa concorrência 
acirrada, o cliente assina contrato conosco por conta da nossa postura ética"
 
Elas sabem da importância de combater o problema, sobretudo num país como o Brasil, que passou, no ano passado, de 69º para 73º lugar, numa lista de 182 países, no Índice de Percepção da Corrupção Mundial, avaliado pela ONG Transparência Internacional. Quanto mais baixa a posição no ranking, pior é a avaliação. Para descolar-se dessa realidade, algumas companhias já contam com robustos departamentos focados na definição de regras de conduta – conhecidas pelo termo em  inglês “compliance” – entre funcionários, fornecedores e clientes. Mesmo que, num primeiro momento, a transparência não traga ganhos financeiros, o rótulo de empresa “ética” pode vir a ser o fiel da balança para fechar negócios. 
 
“Há casos em que, numa concorrência acirrada, o cliente assinou contrato conosco por conta da postura ética e responsável da nossa empresa”, disse à DINHEIRO Wagner Giovanini, diretor de compliance da Siemens para a América Latina. A multinacional alemã adotou uma política global rigorosa depois de ter sua reputação abalada por escândalos envolvendo CEOs em filiais de vários países, inclusive no Brasil. A área de compliance, criada em 2007, trabalha para prevenir e detectar casos de má conduta. Gastos com viagens, presentes a terceiros, patrocínios, doações e jantares passam pelo pente-fino da equipe especializada. Nos 190 países em que a empresa atua, são 600 funcionários envolvidos com o assunto. No Brasil, o departamento tem 30 pessoas, que checam se os 800 parceiros comerciais respeitam as regras estabelecidas nos contratos. 
 
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Carlos de Oliveira, da Aes Sul: "É preciso estar atento a quem são seus fornecedores"
 
No ano passado, o rigor da política anticorrupção atingiu em cheio o então presidente da unidade brasileira, Adilson Primo. Depois de 34 anos de casa, Primo foi demitido, acusado de desviar € 7 milhões para uma conta pessoal na Europa. Foi um escândalo no mercado, mas nem de longe abalou a imagem da Siemens. Ao contrário. Listada no índice Dow Jones de Sustentabilidade, que coloca a ética como um diferencial competitivo, a multinacional alcançou a pontuação 99, numa escala que vai até 100.  
A preocupação com práticas lícitas tem mobilizado o mundo corporativo a pressionar o Congresso por alterações na legislação brasileira. No ano passado, o Instituto Ethos, que representa cerca de mil empresas, incluindo a Siemens, elegeu três projetos de lei como prioridade. 
 
Um deles, já aprovado no Legislativo, prevê o fim do sigilo de documentos oficiais. O Ethos acompanha, também, o andamento do projeto que responsabiliza empresas em atos contra a administração pública e outro que tenta regulamentar a atividade do lobby empresarial. Neste ano, a entidade quer  monitorar outras 100 propostas que tramitam no Congresso. “As empresas querem minimizar seus riscos”, afirma Luciana Aguiar, coordenadora do Pacto Empresarial pela Integração contra a Corrupção do Instituto Ethos, que reúne 276 companhias. O receio de ter a imagem comprometida alcança até mesmo a prática da doação para campanhas eleitorais. Atentas à possibilidade de terem seus nomes atrelados a escândalos, algumas empresas começam a rever se devem, ou não, doar recursos para candidatos. 
 
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Adilson Primo, ex-presidente da Siemens: demitido sob suspeita de desvio 
de € 7 milhões da empresa.
 
Algumas já tornaram pública a sua decisão de não se envolver em política, como é o caso da concessionária de energia CPFL e da indústria de cosméticos Natura.  Luciana, do Ethos, conta que quem manteve a decisão de fazer doações procura ser bem transparente sobre os recursos destinados. “Seja por meio da comunicação interna a seus funcionários, seja por meio de prestação de contas no site da empresa”, diz Luciana. Outra iniciativa atrai reconhecimento internacional. Criado no segundo semestre do ano passado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e o Instituto Ethos, o Cadastro Empresa Pró-Ética já conta com oito companhias certificadas por práticas de boa governança corporativa e ética nos negócios. 
 
EDP Energia, Siemens, Johnson Control, AES Sul, Eletropaulo, AES Tietê, CPFL Energia e Infraero foram as únicas, de um total de 70 inscritas, a provar com documentos o compromisso de combater internamente a corrupção. “O cadastro incentiva empresas a se prevenirem contra fraudes e evitar punições judiciais”, afirma  Vânia Vieira, diretora de prevenção da corrupção da CGU. Uma das primeiras a integrar o cadastro proética é a AES Sul, subsidiária no Rio Grande do Sul da concessionária de energia AES Brasil. Desde 2003, ela conta com um departamento de compliance, possui um código de conduta ética e promove treinamentos específicos. “Hoje as relações comerciais tornam-se mais complexas, porque você compra e vende no mundo todo e tem que estar atento a quem são seus fornecedores”, diz Antônio Carlos de Oliveira, diretor-geral da empresa. 
 
“É bom que eles saibam que há regras bem definidas.” Mas, embora o engajamento do setor privado contra a corrupção seja louvável, a adesão a práticas do gênero ainda é incipiente no Brasil, apontam especialistas. Mesmo entre as companhias que já estão engajadas, é preciso ter ferramentas que deem clareza à sociedade da sua efetiva atuação contra atos desonestos. Para Bruno Speck, cientista político da Universidade de Campinas (Unicamp), ainda é muito comum que empresas usem códigos politicamente corretos apenas para fazer marketing. “E os pactos pela integridade não blindam as empresas contra escândalos”, diz Speck. Em outras palavras, é preciso ser, tanto quanto parecer, honesto.
 


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