sábado, 31 de agosto de 2013

Onde foi parar o dinheiro do lucro?

Onde foi parar o dinheiro do lucro?

É comum os sócios, acionistas e até os próprios administradores da empresa fazerem essa pergunta e não encontrarem respostas satisfatórias.
Surgem os vários palpiteiros, principalmente os responsáveis financeiros da empresa, afirmando (com muita convicção, mas sem dados concretos e, portanto, apenas palpitando) a responsabilidade do departamento comercial (“o contas a receber aumentou”, “já falei que precisamos reduzir o prazo de pagamento dos clientes”, etc), a responsabilidade da produção (“o estoque aumentou”, “precisamos reduzir os estoques”, etc), a responsabilidade de compras (“o contas a pagar reduziu”, “já falei para os compradores aumentarem o prazo de pagamento aos fornecedores”, etc), a responsabilidade dos administradores (“fizeram muitos investimentos”), sem jamais admitir sua parcela de (des)culpa no processo.
A verdade é que existe uma única resposta para explicar porque o dinheiro não apareceu disponível no fluxo financeiro: falta de adequada administração do fluxo financeiro da empresa, com baixa ou nenhuma visibilidade do fluxo de caixa de médio e longo prazo.
Primeiro é preciso esclarecer que administrar financeiramente não é negociar e obter novos e maiores limites de crédito nos bancos, nem negociar e obter taxas de juros menores nos empréstimos e financiamentos tomados, nem fazer aplicações financeiras que reduzam o spread bancário, nem aplicar recursos financeiros em operações mais seguras ou estabilizadoras (hedge), nem receber contas, nem cobrar clientes, nem pagar contas, muito menos liberar os pagamentos no sistema (antes, alguns diretores acreditavam que administração financeira era controlar os pagamentos mediante exigência de sua assinatura nos cheques); devemos compreender que tudo isso é apenas operacionalização do fluxo de caixa.
A atualizada administração financeira compreende que sua missão é “dar sustentação financeira aos negócios da empresa” e sua conduta principal é agir como facilitador de bons negócios para a empresa.
E para o exercício desse mister é necessário atuar na orientação, na direção dos negócios que, por sua vez, demanda conhecer todos os reais impactos financeiros de curto, médio e longo prazos.
Interessante observar que os administradores financeiros comumente apenas observam suas necessidades financeiras considerando as contas a receber e a pagar de curto, médio e longo prazo e, assim, incluem as duplicatas a receber, os saldos de eventuais aplicações financeiras existentes, as contas a pagar (fornecedores, tributos, empregados, empréstimos e financiamentos, etc.), ou seja, tudo aquilo que já tem data para receber ou data para pagar.
Vejamos as considerações feitas em balanço de importante empresa nacional, ícone no seu mercado de atuação, no encerramento de 2012:
Os objetivos da Sociedade ao administrar seu capital são os de salvaguardar a capacidade de continuidade da Sociedade para oferecer retorno aos acionistas e benefícios a outras partes interessadas.
A Sociedade monitora o capital com base nos índices de alavancagem financeira. Esse índice corresponde à dívida líquida dividida pelo patrimônio líquido. A dívida líquida, por sua vez, corresponde ao total de empréstimos e financiamentos (incluindo empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos, conforme demonstrado no balanço patrimonial consolidado) subtraído do montante de caixa e equivalentes de caixa.
Os índices de alavancagem financeira consolidados em 31 de dezembro de 2012 e em 31 de dezembro de 2011 estão demonstrados a seguir:

Controladora

Consolidado

2012
2011

2012
2011
Empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos
1.988.682
918.973

2.324.519
1.186.699
Instrumentos Financeiros derivativos
-80.271
-28.184

-80.928
-28.626
Caixa e equivalentes de caixa e Titulos e valores mobiliários
-1.241.254
-166.007

-1.643.062
-515.610
Dívida líquida
667.157
724.782

600.529
642.463
Patrimônio líquido
1.306.096
1.250.244

1.306.097
1.250.245
Índice de alavancagem financeira
51,08%
57,97%

45,98%
51,39%
Mas vejamos: muito embora demonstre corretamente os índices de alavancagem financeira calculados tradicionalmente (pelo ultrapassado administrador financeiro), apresenta como objetivos da administração de seu capital salvaguardar a capacidade de continuidade da Sociedade para oferecer retorno aos acionistas e benefícios a outras partes interessadas e, assim, deveria demonstrar a real escassez de recursos financeiros que se apresentarão no curto, médio e longo prazo, o que não faz, pois assim restaria demonstrado:

Consolidado

2012
2011
Ativo circulante
3.378.317
2.203.259
Passivo circulante
-2.414.712
-1.274.719
Ativo realizável a longo prazo
756.428
626.565
Passivo não circulante
-1.654.570
-1.268.048
Capital de giro investido no negócio
-608.504
-840.488
Proposta de dividendos adicionais
-491.343
-490.885
Verbas necessárias à recomposição do ativo imobilizado e intangíveis
-611.225
-480.656
Escassez/excesso de recursos financeiros disponíveis
-1.645.609
-1.524.972
Patrimônio líquido
1.306.097
1.250.245
Índice de alavancagem financeira necessária para manter vivo o negócio
125,99%
121,97%
E tais são os valores se considerarmos os cálculos de depreciação realizado pela empresa que, no nosso entender, considera apenas a depreciação física dos equipamentos operacionais.
Se considerarmos a depreciação tecnológica (para manter os equipamentos tecnologicamente atualizados e garantir a competitividade operacional da empresa frente aos concorrentes ao longo do tempo), os valores seriam:

Consolidado

2012
2011
Ativo circulante
3.378.317
2.203.259
Passivo circulante
-2.414.712
-1.274.719
Ativo realizável a longo prazo
756.428
626.565
Passivo não circulante
-1.654.570
-1.268.048
Capital de giro investido no negócio
-608.504
-840.488
Proposta de dividendos adicionais
-491.343
-490.885
Verbas necessárias à recomposição do ativo imobilizado e intangíveis
-747.495
-539.936
Escassez/excesso de recursos financeiros disponíveis
-1.781.789
-1.584.252
Patrimônio líquido
1.169.827
1.190.965
Índice de alavancagem financeira necessária para manter competitivo o negócio
152,31%
133,02%
Assim, temos que o demonstrativo apresentado pela empresa em seu balanço de 31/12/2012 mostra melhora do índice de alavancagem financeira, passando de 51,39% para 45,98%, mas a realidade financeira nos diz que o índice de alavancagem financeira pulou de 121,97% para 125,99% (de 133,02% para 152,31% se calculada a depreciação tecnológica).
Ou seja, enquanto que o relatório apresentado pela empresa nos diz que precisaremos de 0,6973 vezes o lucro de 2012 para cobrir a deficiência financeira da empresa, a realidade nos diz que precisaremos de 1,9108 vezes o lucro de 2012 para efetivamente cobrir a deficiência financeira da empresa.
E, não por coincidência, nos baseamos nos números de uma das melhores empresas do mercado, a Natura, para demonstrar que a administração financeira da empresa baseia-se em metodologias ultrapassadas. Se avaliarmos empresas com dados não tão bons quanto o dela, veremos diferenças ainda muito mais expressivas.
Na JBS, por exemplo, os valores e índices do balanço são:



Consolidado




2012
2011
Empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos



20.488.944
18.872.194
Instrumentos Financeiros derivativos



-26.154
-27.293
Caixa e equivalentes de caixa e Titulos e valores mobiliários



-5.383.087
-5.288.194
Dívida líquida



15.079.703
13.556.707
Patrimônio líquido



21.433.306
21.599.188
Índice de alavancagem financeira



70,36%
62,76%
Já, a realidade da JBS nos diz que:

Consolidado

2012
2011
Ativo circulante
19.383.399
17.931.281
Passivo circulante
-11.537.573
-10.395.699
Ativo realizável a longo prazo
2.198.322
1.568.270
Passivo não circulante
-16.785.314
-15.415.997
Capital de giro investido no negócio
-11.802.414
-10.885.637
Proposta de dividendos adicionais
0
0
Verbas necessárias à recomposição do ativo imobilizado e intangíveis
-5.633.537
-3.942.438
Escassez/excesso de recursos financeiros disponíveis
-24.177.117
-21.140.220
Patrimônio líquido
20.519.158
21.101.704
Índice de alavancagem financeira necessária para manter vivo o negócio
117,83%
100,18%
Assim, enquanto que a JBS demonstra serem necessárias 19,77 vezes o lucro de 2012 para sanear suas finanças, a realidade nos diz que serem necessárias 62,76 vezes.
Veja que nos mostra uma realidade totalmente diferente e se mantivermos nossas análises e pensamentos ultrapassados, perguntaremos por 63 anos (no caso da JBS) onde foi parar o dinheiro do lucro. A verdade é que já usamos, já antecipamos o resultado econômico (lucro) de 63 anos para que pudéssemos produzir agora.
Assim, é realmente necessário mudar nossa conduta na administração financeira para realmente conhecer quanto de lucro nós já antecipamos para a operação atual (sim, porque a escassez de recursos financeiros nada mais é do que a antecipação financeira de possíveis resultados econômicos futuros).
E a mudança de nossa conduta na administração financeira passa necessariamente pela mudança na análise do fluxo de caixa da empresa.
Precisamos sair daquele modelo já ultrapassado de controle do fluxo de caixa e adotar relatório que seja capaz de medir, com exatidão e segurança, com qual eficiência estamos administrando cada uma das principais verbas que compõem nosso fluxo financeiro.
É aí que entra o Relatório Gerencial de Eficiência no Fluxo de Caixa (click aqui e veja o relatório ideal).
É com esse relatório que seremos capazes de identificar como estamos efetivamente administrando o fluxo financeiro da empresa, quais são os valores de cada uma das verbas superavitárias e de cada uma das verbas deficitárias e, assim, permitir sua completa e efetiva administração.
Mãos à obra?

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