quinta-feira, 18 de julho de 2013

O grito das ruas e a (r)evolução econômica

O grito das ruas e a (r)evolução econômica

Uma análise sócioeconômica livre sobre as manifestações populares e o potencial evolutivo do país, com proposições abertas de melhoria em longo prazo

Andre Carvalho
Estamos passando por um novo ciclo de transformações, talvez comparável apenas ao advento da tecnologia e da internet, entre o final dos anos 1990 e início do ano 2000. O mote agora é social, e a manifestação vista nas ruas, em todo o país, disseminou um fenômeno estranho, que levará anos para que se explique plenamente de maneira científica. Repentinamente, massas de pessoas atenderam a apelos anônimos, se identificando com grupos desconhecidos, movidos por interesses (ou desgostos) comuns, e saíram às ruas para reivindicar. E lançaram em todas as esferas, uma pergunta calorosa, que ecoou entre o poder público e hoje alimenta o planejamento estratégico das empresa privadas: afinal, o que este povo quer?
Ainda estamos em um modelo onde o que se quer é ditado. Pelo governo, pela moda, pela mídia. Vem de uma época onde se propagava que o povo não sabe o que quer. Henry Ford já dizia, nos tempos da criação do automóvel, que se perguntado ao consumidor o que ele queria, teria respondido apenas cavalos mais rápidos, uma alusão a incapacidade de reivindicar o novo, até que este fosse imposto.
Porém, o recente questionamento das ruas abalou, enfim, esta rotina. Para responder a esta antiga pergunta voltados para o novo futuro, temos que rever um pouco mais das respostas do passado e as dinâmicas que as geraram. Vejamos: há meses todos os analistas de mercado são unânimes em mencionar que nosso modelo econômico, apoiado no estímulo ao consumo desenfreado, não poderia se sustentar em longo prazo. E apesar disso, os únicos estímulos e respostas recebidos foram por comprar mais. Quantitativamente. E seguimos o estímulo recebido em tom comemorativo.

Hoje temos índices, publicados no início deste mês de julho, que constatam:
- paramos de crescer;
- a população está endividada;
- o crédito está caro;
- os preços seguem aumentando, motivados pela baixa produção;
- não há como ampliar a produção, pois não se tem recursos para tomar dinheiro emprestado, tampouco utilizar aporte próprio das empresas para maior investimento, pois estão vendendo menos;
- inevitavelmente, vendendo menos, começamos a ver a redução no emprego;
- esta redução no emprego reduz também a renda, que reduz por sua vez o capital circulante no mercado, que inibe ainda mais as vendas;
- e por fim, o Real se desvaloriza, porém com anos de olhar exclusivista para o mercado interno, isto poderia ser uma vantagem competitiva para a exportação, mas como o mercado internacional perdeu a confiança em nosso país, nos resta apenas continuar a exportar commodities.
A resposta da pergunta inicial parecia ser em um dado momento, que o povo queria apenas comprar mais. E os movimentos públicos e privados até então se limitaram a atender esta resposta. Agora, o povo percebeu que precisava de mais. Nas ruas esbravejou a fortes pulmões mais uma infinita lista de reais necessidades, negligenciadas por tanto tempo, e que não são possíveis de comprar, nem com um novo empréstimo consignado. 
É cedo para apostar no quanto esta cobrança vai durar, e quanto resultado produzirá. Como cidadão, é certo que cada brasileiro deseja, a seu modo, perceber um resultado efetivo deste movimento. Ações dos representantes efetivos da nação que garantam direitos, e não apenas compras. Saúde garantida com bons profissionais, formados em salas de aulas de boa qualidade, por meio de bons professores, valorizados por sua dedicação, que possam sair de casa e chegar nas escolas em segurança, em transporte digno por preço justo. Preço este aplicado também nas mercadorias e serviços das lojas, sem a deturpação de taxas e impostos aviltantes que impeçam empresas de investir em melhorias e garantir a continuidade e evolução dos negócios. Excessos estes que são aplicados hoje para sustentar um número abusivo de representantes governamentais, suas assessorias e seus benefícios, muitas vezes em desacordo com a legalidade.
Como poderemos nos reerguer antes de evidenciar uma crise? Retomar o tempo perdido com a falta de investimento correto do setor público, e a falta de qualquer investimento do segmento privado? Como fazer dar certo? Eis uma resposta difícil, mas um bom começo pode ser a maior atenção aos especialistas, como os que indicaram lá atrás o presságio de um colapso do nosso sistema. Valorizar mais nosso capital intelectual, pode não trazer todas as respostas, mas vai melhorar muito a sua qualidade. E como valorizar? Cabe a todos os envolvidos: ao governo, valorando de uma vez e sem paliativos o nosso ensino, e direcionando cargos conforme as competências exigidas para seu correto desempenho. As empresas, buscando os melhores e mais preparados profissionais em suas contratações, e estimular seu aperfeiçoamento contínuo. E ao povo, valorar nestas duas esferas os melhores profissionais. Seja para comprar o melhor. Seja para votar melhor.
Que estes movimentos nos garantam, no futuro, nova saída às ruas, agora para comemorar um novo país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário